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sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Lichias, responsáveis pela morte de centenas de crianças na Índia

Fruta está por trás da enigmática doença que a cada verão matava crianças no Estado indiano de Bihar. Uma pesquisa sistemática permitiu encontrar a toxina responsável.

Muitos as conhecerão unicamente por vê-las nos menus de sobremesas dos restaurantes chineses, com a banana frita e limões e laranjas gelados. As lichias, essas polpas esbranquiçadas que lembram as uvas, doces ainda que por vezes com um toque ácido, são uma fruta subtropical muito popular em certas regiões da China, Índia e Austrália, os principais países produtores. Mas são também, de acordo com um estudo publicado recentemente, a causa da misteriosa doença que no começo de cada verão vitimava centenas de crianças no distrito de Muzafarpur, nordeste da Índia.
O enigmático surto se repetia, desde 1995, em meados de maio, quando as temperaturas disparam nessa região coberta por plantações de lichias. Crianças da região aparentemente saudáveis acordavam chorando muito, com alterações sensoriais e convulsões. Ao chegar aos hospitais dessa parte do Estado de Bihar (o de menor PIB per capita de todo o país), muitos – sempre menores de 15 anos – entravam em coma. E entre três e quatro de cada 10, morriam. Semanas depois, em julho, chegavam as monções e a epidemia desaparecia novamente.

Entre as teorias mais ou menos fundamentadas que pesquisadores e especialistas haviam criado nesses anos para explicar as mortes apareciam diferentes infecções do encéfalo, a ingestão de metais pesados e a exposição a pesticidas usados nas plantações. Mas há tempos que muitos suspeitavam que as lichias – a região lidera com folga a produção na Índia – tinham um papel importante no quebra-cabeças.
Finalmente, em 2013 o centro nacional de controle de doenças indiano iniciou uma pesquisa em colaboração com seu equivalente norte-americano, cujos resultados foram publicados agora pela prestigiosa revista médica britânica The Lancet. Não foi encontrado nas crianças indianas doentes nenhum indício de infecção, tese reforçada pelo fato de que os casos não se concentravam geograficamente: cada um parecia ser praticamente um fato isolado em sua própria comunidade. Além disso, o laboratório revelou que muitos pacientes afetados eram internados nos hospitais com níveis baixos de glicose no sangue, e que a mortalidade se dava em função desses níveis. Então, os especialistas focaram na busca de uma toxina que estivesse presente no ambiente dos doentes e que pudesse causar os baixos níveis de açúcar e as subsequentes convulsões e encefalopatia.
Foi aí que voltaram a colocar a lupa nas lichias, onipresentes na vida diária de uma região em que oito de cada 10 habitantes se dedicam à agricultura e muitos deles vivem da produção dessa fruta, rica em vitamina C, cuja casca avermelhada é retirada para se comer a polpa branca que recobre a semente. Estudos anteriores sobre outra fruta conhecida como ackee (da mesma família da lichia) já haviam demonstrado que a toxina hipoglicina A, presente na ackee, era a causadora da mortal doença do vômito jamaicana ou síndrome hipoglicêmica tóxica. “Estabelecer essa relação foi essencial para se avançar”, lembra Padmini Srikantiah, uma das autoras do estudo. A pista quase definitiva.

SÃO COMESTÍVEIS?

As lichias são uma grande fonte de vitamina C e, como quase todas as frutas tropicais, têm um ato teor de potássio. “Mas quando são consumidas frescas. As enlatadas e em calda não servem”, diz Ana Islas Ramos, especialista em nutrição da FAO (agência da ONU para a alimentação).

A especialista ressalta que as mortes registradas em Muzafarpur e outros lugares são “casos particulares” que ocorreram em um contexto e condições bem específicas, e não acredita que devam alarmar os consumidores de lichias de outros países.

Os autores do estudo também afirmam que as recomendações de minimizar o consumo dessas frutas e se assegurar de comer após esse consumo são dirigidas “especificamente às crianças das áreas afetadas pelo surto”.

As análises feitas pelos pesquisadores nos dois hospitais de referência no distrito de Muzafarpur trouxeram mais pistas. Entre 26 de maio e 17 de julho de 2014, 72% das crianças que chegaram afetadas por essa doença sazonal tinham entre um e cinco anos. E oito em cada 10 apresentavam diferentes graus de desnutrição e atrasos no crescimento causados pela falta de alimento suficiente. “O estado nutricional deve estar relacionado”, diz Srikantiah, uma epidemiologista do centro de controle de doenças norte-americano.
Os pais e responsáveis que os levavam aos hospitais afirmavam, em 94% dos casos, que as crianças pareciam saudáveis e que os sintomas (vômitos, convulsões, inconsciência...) haviam aparecido em menos de 24 horas. Nesse período de 2014, morreram 122 dos 386 jovens que chegaram aos hospitais.
Depois foram cruzadas as atividades de 104 afetados nas 24 horas anteriores à internação, com as de outros tantos pacientes das mesmas idades que tinham outras doenças. Os resultados demonstraram que comer lichia em casa (ou ter estado em uma plantação onde as frutas poderiam ter sido comidas) era o principal fator de risco. Dos que haviam ingerido as frutas, existiam mais doentes entre os que as comeram verdes e imaturas, podres e do chão. Mas sobretudo, as probabilidades de se ficar doente aumentava entre os que, tendo comido lichias, não haviam jantado nada na noite anterior.
A pesquisa, segundo seus autores, é a primeira evidência científica de que a doença que assola Muzafarpur no começo de cada verão é condicionada ´pelo consumo dessas frutas e a toxicidade da hipoglicina A (e seu composto metilenociclopropilglicino, MCPG). Nessa época do ano, de acordo com os pais da região, as crianças costumam passar os dias nos campos comendo lichias, e muitas chegam em casa sem fome. A combinação de se ingerir as frutas e não jantar nada acarreta, em alguns casos, uma hipoglicemia noturna que desencadeia a encefalopatia na manhã seguinte.
Mesmo com a publicação de recomendações seguindo essa teoria, em junho de 2015 e 2016 ainda foram registrados pequenos surtos dessa encefalopatia infantil na região. O Governo de Bihar recomendou que, em casos como esses, os níveis de glicose sejam medidos e corrigidos imediatamente. “Também foram distribuídos panfletos pela região conscientizando os pais da necessidade de que seus filhos jantem”, diz Srikantiah. A desnutrição, comum na população infantil da região, também aumenta as opções de se cair nessa armadilha mortal em formato de fruta doce.

SEM RECURSOS PARA PESQUISAR



“Surtos como o de Muzafarpur mostram como as ameaças à saúde pública a priori inexplicáveis em lugares com poucos recursos costumam ser deixadas de lado sem pesquisa”, diz a doutora Padmini Srikantiah, epidemiologista e uma das autoras do estudo. Desde as mortes que dispararam o alarme, em 1995, até o início do estudo graças à colaboração indo-norte-americana em 2013, se passaram quase 18 anos, nos quais diversas teses e pesquisas não chegaram a uma solução.
“A pesquisa de doenças sem explicação apresenta muitos desafios nesse tipo de ambiente. Somente um enfoque sistemático, contando com médicos, epidemiologistas, cientistas, toxicologistas... pode conseguir os dados necessários para se obter conclusões úteis”, diz Srikantiah.


Fonte:http://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/02/internacional/1486047108_040648.html



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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Produção recorde de vacinas contra a febre amarela



A Fundação Oswaldo Cruz bateu o recorde de produção de vacinas contra a febre amarela por causa do surto que atinge principalmente Minas Gerais. Mas o Ministério da Saúde diz que não há necessidade de corrida aos postos nas áreas onde não há aumento de casos da doença.
Olhos vigilantes e o aplicativo de celular da Fundação Oswaldo Cruz (clique aqui) são ferramentas que a população pode usar no combate à febre amarela. Qualquer um pode mandar fotos, comunicar a morte suspeita de animais e evitar que a febre amarela se espalhe.

“O vírus circula entre o mosquito, os primatas e as pessoas, quanto mais próximo os mosquitos e os macacos estiverem da gente, maior a possibilidade desse surto. Então animais dentro da floresta e pessoas que vão à floresta se protejam dos mosquitos. E alimentar animais, jamais”, recomenda Márcia Chame, bióloga da Fundação Oswaldo Cruz.
O Brasil está enfrentando o maior surto de febre amarela silvestre da história. Os 107 casos da doença confirmados desde dezembro de 2016 se concentram na Região Sudeste, a maioria em Minas Gerais, estado que também registrou o maior número de mortes.
O esforço para evitar novas áreas de contágio envolve profissionais do Brasil inteiro, que nesta terça-feira (31) se reuniram no Rio.

Neste momento, o Ministério da Saúde recomenda vacinação nos seguintes casos: pessoas que moram nas áreas atingidas pela doença; pessoas que moram em regiões próximas a essas áreas atingidas; e pessoas que vão viajar para as regiões atingidas ou próximas.
Nestes casos estão Oeste do Espírito Santo, Noroeste do Rio de Janeiro, Oeste da Bahia, e Leste de Minas Gerais.

Além desses lugares, a vacinação já é uma rotina em áreas de 19 estados há muito tempo porque são, historicamente, locais de circulação do vírus. 

E quem vive nessas regiões desses estados que aparecem em cinza no mapa já tinha antes do surto a recomendação de tomar duas doses da vacina ao longo da vida com um intervalo de dez anos. Isso continua valendo.

Quem mora em outras regiões do país não precisa tomar a vacina.
O ministério também avisa que não há necessidade de corrida aos postos de saúde, já que há doses suficientes para atender as regiões com recomendação de vacinação.

O importante é seguir as orientações das autoridades.

“É o esclarecimento da população, no caso específico da febre amarela, que é uma doença que nós temos uma vacina que é eficaz, que é segura, para não gerar pânico e, dentro da orientação que temos trabalhado com o Ministério da Saúde, de uma vacinação que é nas áreas de risco”, disse a presidente da Fiocruz, Nísia Trindade.

O laboratório da Fundação Oswaldo Cruz é o maior fabricante de vacinas contra a febre amarela do mundo e está batendo um recorde de produção. Em janeiro deve chegar ao máximo da sua capacidade: nove milhões de doses. Isso em um só mês.

“Nós produzimos a vacina há quase 80 anos e temos condição de atender à demanda, é lógico que obedecendo um planejamento e uma racionalidade da imunização”, explicou Marcos Freire, vice-diretor de Bio-Manguinhos.

Fonte: http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2017/01/fiocruz-bate-recorde-de-producao-de-vacinas-contra-febre-amarela.html


Aprenda mais...

VACINA FEBRE AMARELA

Por Dra. Mônica Levi
1.  O que é febre amarela?
É uma doença febril aguda, potencialmente grave, causada por um vírus da família dos Flavivírus, o vírus da febre amarela.

2.  Como se adquire a doença?

O vírus é transmitido pela picada de um mosquito infectado, do gênero Aedes, o mesmo que transmite a dengue.

3.  Quais são os sintomas da doença?

Os sintomas variam desde formas assintomáticas ou pouco sintomáticas, similares a um quadro gripal, até formas graves, potencialmente fatais.
Os sintomas clássicos da doença incluem: febre alta, mal estar, dor de cabeça, dores musculares, prostração, náuseas e vômitos. Após três a quatro dias, remissão da febre e melhora dos sintomas evoluindo para cura em cercas de 85%  dos casos.
Já nas formas graves (cerca de 15% dos casos) dá-se início uma segunda fase com icterícia, instalação de insuficiência hepática e renal, podendo ocorrer acometimento neurológico e coma. A mortalidade é elevada para os que evoluem para essa segunda fase, chegando até 50%.

4.  Quem deve ser vacinado?

Recomenda-se vacinar toda a população brasileira residente em áreas de risco a partir dos nove meses de vida e aqueles que viajarem para regiões de risco dentro ou fora do Brasil.
Alguns países fazem exigência do certificado de vacinação para entrada no país (CIVP), de viajantes provenientes de regiões endêmicas, como o Brasil. Nesses casos, viajantes também deverão receber a vacina por exigência governamental do país de destino.

5.  Quais são as regiões de risco?

São várias, e obedecem a critérios epidemiológicos dinâmicos. Você pode se informar a esse respeito através dos órgãos públicos (sites do Ministério da Saúde e das Secretarias Estaduais e Municipais), ou nos vários serviços públicos e privados de Medicina do Viajante.

6.  O que é a vacina febre amarela?

É uma vacina constituída de vírus vivo atenuado. Apresenta eficácia acima de 95% e a proteção persiste por 10 anos ou mais.
A vacina é aplicada em dose única de 0,5ml subcutânea.
O Ministério da saúde recomenda revacinação a cada dez anos.

7.  Quais os eventos adversos após a vacinação?

Os eventos adversos comuns ocorrem em 2% a 5% dos vacinados entre cinco e 10 dias após vacinação e geralmente são leves: dor de cabeça, dor muscular, febre.
Reações alérgicas leves são ocasionais e relacionadas com reação à proteína do ovo. Reações anafiláticas são muito raras ( 1: 350.000 doses aplicadas) e afetam principalmente pessoas com alergia intensa a ovo.
Os eventos adversos  graves, como acometimento do sistema nervoso ou disseminação do vírus vacinal pelo organismo, felizmente são raros ( 1:250.000 – 1:1.000.000 de pessoas vacinadas)  e parecem ocorrer com frequência maior em pessoas com idade acima de 60 anos, que recebem a vacina pela primeira vez.

8.  Quem não pode ser vacinado?

As contraindicações para vacinação contra febre amarela são:
·      Idade menor que seis meses
·      Hipersensibilidade a algum dos componentes da vacina
·      Portadores de imunodeficiências
         Existem situações de precaução, nas quais a indicação da vacinação deve ser ponderada entre risco e benefício:
·     Idade entre seis e oito meses
·     Idade ≥ 60 anos
·     Infectados pelo vírus HIV
·     Gestantes
·     Mulheres amamentando crianças menores de seis meses