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domingo, 1 de março de 2015

A Febre Chikungunya (Chicungunha): comprometimento intenso das articulações preocupa especialistas

Febre Chikungunya chega ao Brasil

O que é Febre Chikungunya?

Febre Chikungunya é uma doença parecida com a dengue, causada pelo vírus CHIKV, da família Togaviridae. Seu modo de transmissão é pela picada do mosquito Aedes aegypti infectado e, menos comumente, pelo mosquito Aedes albopictus
Seus sintomas são semelhantes aos da dengue: febre, mal-estar, dores pelo corpo, dor de cabeça, apatia e cansaço. Porém, a grande diferença da febre chikungunya está no seu acometimento das articulações: o vírus avança nas juntas dos pacientes e causa inflamações com fortes dores acompanhadas de inchaço, vermelhidão e calor local.
A febre chikungunya teve seu vírus isolado pela primeira vez em 1950, na Tanzânia. Ela recebeu esse nome pois chikungunya significa “aqueles que se dobram” no dialeto Makonde da Tanzânia, termo este usado para designar aqueles que sofriam com o mal. A doença, apesar de pouco letal, é muito limitante. O paciente tem dificuldade de movimentos e locomoção por causa das articulações inflamadas e doloridas, daí o “andar curvado”.


Os mosquitos transmitiam a doença para africanos abaixo do Saara, mas os surtos não ocorriam até junho de 2004. A partir desse ano, a febre chikungunya teve fortes manifestações no Quênia, e dali se espalhou pelas ilhas do Oceano Índico. Da primavera de 2004 ao verão de 2006, ocorreu um número estimado em 500 mil casos.
A epidemia propagou-se do Oceano Índico à Índia, onde grandes eventos emergiram em 2006. Uma vez introduzido, o CHIKV alastrou-se em 17 dos 28 estados da Índia e infectou mais de 1,39 milhão de pessoas antes do final do ano. O surto da Índia continuou em 2010 com novos casos aparecendo em áreas não envolvidas no início da fase epidêmica.
Os casos também têm sido propagados da Índia para as Ilhas de Andaman e Nicobar, Sri Lanka, Ilhas Maldivas, Singapura, Malásia, Indonésia e numerosos outros países por meio de viajantes infectados. A preocupação com a propagação do CHIKV atingiu um pico em 2007, quando o vírus foi encontrado no norte da Itália após ser introduzido por um viajante com o vírus advindo da Índia.
As taxas de ataque em comunidades afetadas em recentes epidemias variam de 38% a 63% e, embora em níveis reduzidos, muitos casos destes países continuam sendo relatados. Em 2010, o vírus continua a causar doença em países como Índia, Indonésia, Myanmar, Tailândia, Maldivas e reapareceu na Ilha Réunion.
Casos importados também foram identificados no ano de 2010 em Taiwan, França, Estados Unidos e Brasil, trazidos por viajantes advindos, respectivamente, da Indonésia, da Ilha Réunion, da Índia e do sudoeste asiático.


Atualmente, o vírus CHIKV foi identificado em ilhas do Caribe e Guiana Francesa, país latino-americano que faz fronteira com o estado do Amapá. Isso quer dizer que a febre chikungunya está migrando e pode chegar ao Brasil, onde os mosquitos Aedes aegypti e o Aedes albopictus têm todas as condições de espalhar esse novo vírus.

Causas

A febre chikugunya não é transmitida de pessoa para pessoa. O contágio se dá pelo mosquito que, após um período de sete dias contados depois de picar alguém contaminado, pode transportar o vírus CHIKV durante toda a sua vida, transmitindo a doença para uma população que não possui anticorpos contra ele. Por isso, o objetivo é estar atento para bloquear a transmissão tão logo apareçam os primeiros casos.
O ciclo de transmissão ocorre do seguinte modo: a fêmea do mosquito deposita seus ovos em recipientes com água. Ao saírem dos ovos, as larvas vivem na água por cerca de uma semana. Após este período, transformam-se em mosquitos adultos, prontos para picar as pessoas. O Aedes aegypti procria em velocidade prodigiosa e o mosquito adulto vive em média 45 dias. Uma vez que o indivíduo é picado, demora no geral de dois a 12 dias para a febre chikungunya se manifestar, sendo mais comum cinco a seis dias.
A transmissão da dengue raramente ocorre em temperaturas abaixo de 16° C, sendo que a mais propícia gira em torno de 30° a 32° C - por isso ele se desenvolve em áreas tropicais e subtropicais. A fêmea coloca os ovos em condições adequadas (lugar quente e úmido) e em 48 horas o embrião se desenvolve. É importante lembrar que os ovos que carregam o embrião do mosquito transmissor da febre chikungunya podem suportar até um ano a seca e serem transportados por longas distâncias, grudados nas bordas dos recipientes e esperando um ambiente úmido para se desenvolverem. Essa é uma das razões para a difícil erradicação do mosquito. Para passar da fase do ovo até a fase adulta, o inseto demora dez dias, em média. Os mosquitos acasalam no primeiro ou no segundo dia após se tornarem adultos. Depois, as fêmeas passam a se alimentar de sangue, que possui as proteínas necessárias para o desenvolvimento dos ovos.
O mosquito Aedes aegypti mede menos de um centímetro, tem aparência inofensiva, cor café ou preta e listras brancas no corpo e nas pernas. Costuma picar, transmitindo a dengue, nas primeiras horas da manhã e nas últimas da tarde, evitando o sol forte. No entanto, mesmo nas horas quentes ele pode atacar à sombra, dentro ou fora de casa. Há suspeitas de que alguns ataquem durante a noite. O indivíduo não percebe a picada, pois não dói e nem coça no momento. Por ser um mosquito que voa baixo - até dois metros - é comum ele picar nos joelhos, panturrilhas e pés.
A fêmea do Aedes aegypti voa até mil metros de distância de seus ovos. Com isso, os pesquisadores descobriram que a capacidade do mosquito é maior do que os especialistas acreditavam.

Em 2014, o Ministério da Saúde já havia confirmado 30 casos de pessoas contaminadas, entre elas 27 brasileiros, todos importados de regiões endêmicas, como República Dominicana e Haiti. Há três casos em investigação: um no Ceará e dois no Amapá. As chances de transmissões autóctones (quando os vetores regionais são infectados e contaminam o homem) serem registradas no país nos próximos meses são reais. O fato de estarmos no inverno e a população de Aedes aegypti – o mesmo transmissor da dengue – estar reduzida contribui para protelar a disseminação do vírus, originário da África. O Aedes albopictus também é transmissor e circula em território nacional.
Os Estados Unidos não tiveram a mesma sorte. Em pleno verão, os dois primeiros casos de contágio em solo norte-americano foram registrados em meados de julho, no estado da Flórida. Nas ilhas caribenhas e em países da América Central, os relatos começaram a surgir em dezembro do ano passado e até agora já foram confirmados mais de 5 mil contágios. Para o médico infectologista do Grupo Hermes Pardini João Paulo Campos, a época do ano é a grande aliada dos brasileiros. “Mas já temos casos endêmicos aqui do lado, como no Caribe e na Costa Rica. Para mim, é só uma questão de tempo até vir para o Brasil.”
A chegada do verão e principalmente do carnaval se torna a grande preocupação para os órgãos de saúde. “Muitas pessoas vêm pra cá a turismo e cria-se um cenário propício para disseminar a doença”, observa João Paulo. Pedro Vasconcelos, chefe da seção de Arbovirologia e Febres Hemorrágicas do Instituto Evandro Chagas (IEC) lembra que a dengue dos tipos 1, 2 e 3 entrarou no Brasil pelo Rio de Janeiro logo depois do carnaval. “Somente a do tipo 4 entrou por Roraima”, conta. A Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais garantiu em nota que o “maior risco de aparecimento de casos e transmissão sustentada da doença ocorre no verão, com o período de chuvas e calor”.
O grande fluxo de pessoas esperados para a próxima temporada de verão no Brasil, associada a uma provável infestação do mosquito no período, são a matemática perfeita para a circulação do chikungunya. “A dispersão do vírus muitas vezes depende mais da quantidade de transmissores do que necessariamente de infectados”, explica Socorro Azevedo, médica e pesquisadora do IEC, ao ser questionada se apenas uma pessoa contaminada seria capaz de tornar a doença endêmica no país. “Se esse indivíduo estiver em um local com uma população expressiva de mosquitos em condição de disseminar o vírus para outras pessoas, a possibilidade de transmissão autóctone existe”, detalha.

Preparados

O Ministério da Saúde tem consciência do risco e vem se preparando desde o final do ano passado para a ameaça iminente. Além da capacitação de profissionais de saúde em várias regiões do país, lançou recentemente a cartilha Preparação e resposta à introdução do vírus chikungunya no Brasil. A Fundação Ezequiel Dias (Funed) em Minas Gerais faz parte do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen) do Ministério da Saúde e já está preparada para realizar o diagnóstico do vírus. “Fomos capacitados para fazer a pesquisa de anticorpos tanto na fase aguda da doença como na fase crônica”, explica Lorena Maciel, farmacêutica analista do laboratório de dengue e febre amarela da Funed. O Hermes Pardini também tem know-how para identificar os anticorpos produzidos pelo organismo humano para combater o vírus. “Também somos capazes de medir a quantidade de vírus no sangue, mas ainda não surgiu demanda para isso”, afirma João Paulo Campos.

Articulações são as partes mais atingidas

A semelhança do chikungunya com a dengue não se limita ao vetor de transmissão. Os sintomas e tratamento também são muito parecidos, o que, a princípio, pode dificultar o diagnóstico preciso. “Inicialmente, podem ser confundidos os quadros, mas o que chama a atenção, no caso do chikungunya, é o comprometimento intenso das articulações”, alerta Socorro Azevedo, médica e pesquisadora do Instituto Evandro Chagas (IEC).
Ao contrário da dengue, em que a dor muscular fica mais evidente, no chikungunya, as dores nas articulações dos dedos, cotovelo e tornozelo, por exemplo, podem se tornar incapacitantes. “Em alguns pacientes, principalmente idosos e crianças, considerados de idade extrema, os sintomas podem ser mais severos”, observa Socorro. Em pessoas com doenças de base como diabetes e hipertensão também há maior risco de piora na evolução do quadro.
Já foram relatados casos em que essa dor pode evoluir para uma artrite e acompanhar o paciente por anos. Estudos na Índia revelaram que 49% dos pacientes apresentaram sintomas persistentes 10 meses depois do início da doença. Em casos extremos, pode ocorrer até mesmo deformidades nas articulações. Apesar das sequelas preocupantes, o chikungunya tem poucos casos de letalidade, ao contrário da dengue. O tratamento também se baseia em medicamentos sintomáticos, ou seja, que vão combater os sintomas, que além de febre alta e súbita incluem mialgia (dor muscular), cefaleia (dor de cabeça) e artralgia (dor nas articulações). “Hidratação e repouso são fundamentais. Para a artrite, podem ser associados anti-inflamatórios”, observa João Paulo Campos, médico infectologista do Grupo Hermes Pardini.
O ácido acetilsalicílico, grande vilão nos casos de dengue, também deve ser evitado mesmo que as consequências para a evolução da doença não sejam tão preocupantes. “Não chega a evoluir para hemorragia, mas pode reduzir as plaquetas e piorar o quadro de lesão cutânea por exemplo”, alerta João Paulo.
Fonte: http://www.lersaude.com.br/nova-febre-proximo-verao-brasileiro-vira-com-o-temor-do-chikungunya/

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