São Paulo - A física brasileira Marcia Barbosa recebeu em março o prêmio L´Oréal-Unesco 2013 para Mulheres e Ciência. A pesquisadora foi premiada por sua descoberta de uma anomalia na água.
O prêmio foi criado em 1998 e oferece 100 mil dólares para cada ganhadora. O objetivo é reconhecer e promover mulheres da área científica a partir da lógica que "o mundo precisa de ciência, e a ciência precisa das mulheres".
Professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Marcia estudava o DNA quando percebeu que a água apresentava algumas anomalias muito importantes em seu comportamento. Essa peculiaridade pode ajudar a entender como os terremotos acontecem e como as proteínas se dobram, um fator importante para estudos relacionados a algumas doenças. Em entrevista a INFO, a pesquisadora detalha sua pesquisa e conta como foi receber o prêmio.
Você já tinha ganhado outros prêmios antes? Eu ganhei a Medalha Nicholson da Sociedade Americana de Física em 2009. Esta é uma medalha pelo meu trabalho sobre mulheres na física.
Como foi descobrir que ganhou o prêmio L´Oréal-Unesco? Esse prêmio foi pelo meu trabalho científico, o que me animou bastante. Fiquei emocionada, pois este é um trabalho que envolve várias pessoas e o prêmio irá ajudar a carreira de muitos dos meus alunos. Na área de ciências físicas (física, química e engenharia), a premiação ocorre a cada dois anos. Ele é dado para uma mulher por continente, logo, é um grande honra ganhar pela América Latina.
Por qual pesquisa você ganhou o prêmio? Eu descobri o mecanismo pelo qual a água muito fria se move mais rapidamente quando a quantidade de partículas de água aumenta. Isto não é nada intuitivo. Normalmente, partículas se movem mais devagar se há muitas delas (como os carros no trânsito de São Paulo ou Rio de Janeiro). Para a água, no entanto, as partículas se movem como macacos se segurando em cipós. Quanto mais cipós, mais rapidamente se movem.
Qual a importância da descoberta sobre as moléculas de água para a ciência? Eu tenho interesse em compreender como as proteínas e o DNA funcionam. Como tudo em nosso organismo esta imerso em água, tive que estudar primeiro a água. A água esta presente em cerca de 80% do nosso corpo e 80% do planeta. Para entender a vida, precisamos compreender a água.
Como você descobriu sua vocação para a física? Quando eu era menina, ajudava o meu pai a consertar as coisas em casa. Gostava de ver como elas funcionavam. Durante o ensino médio em uma escola pública à noite, ajudava a montar o laboratório. Foi assim que eu percebi como gostava muito de física.
Como é a sua rotina de trabalho? Eu trabalho na compreensão das propriedades pouco usuais da água. Tento usá-las para entender como funcionam as proteínas e o DNA. Ao chegar ao trabalho, atuo até a hora do almoço como diretora, ou seja, um serviço administrativo. Durante a tarde, dedico-me aos estudantes, a ler e escrever artigos e a reuniões por Skype com meus colaboradores. Trabalho com pesquisadores em Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Brasília, além de ter colaboradores em Boston, Délhi, Puebla e Stuttgart.
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